Diante de uma Praça São Pedro completamente vazia, mas nunca antes tão cheia, com fiéis do mundo inteiro unindo-se espiritualmente ao Sumo Pontífice, em celebração histórica no dia 27/03, o Papa Francisco dirigiu-se ao mundo, à luz da passagem do Evangelho de Marcos em que Jesus acalma a tempestade. Num final de tarde chuvoso em Roma, Francisco começou: “Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador. Nos vimos amedrontados e perdidos.”
O Papa acrescentou que, diante da situação em que vivemos, estamos todos no mesmo barco. Seja no Evangelho com os discípulos, seja agora conosco, lá está Deus. Em meio à tempestade, Ele dorme – único relato no Evangelho em que Jesus dorme, como observou Francisco. Ao ser despertado, questiona: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40). “A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade.”
O Santo Padre também questionou as prioridades do mundo, afirmando: “Na avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos […]. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente […].”
Francisco falou ainda a respeito da heroicidade dos anônimos, “médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosos e muitos outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho.” Ao final, concluiu: “Deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nessa tarde de confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo, desça sobre vocês […] a bênção de Deus. Senhor, não nos deixeis a mercê da tempestade.” Após, o Papa adorou o Santíssimo e concedeu a bênção Urbi et Orbi, à cidade de Roma e ao mundo, com a anexa indulgência Plenária.